Hoje vamos mergulhar no mundo encantador e, às vezes, complicado das comédias românticas dos anos 2000. Esses filmes não foram apenas sucessos de bilheteria; eles moldaram gerações, influenciam nossa visão de amor e relacionamentos e, sim, às vezes perpetuam estereótipos e ideias problemáticas que merecem uma olhada crítica.
DE REPENTE 30 |
Ah, as romcoms dos anos 2000! Quem nunca sonhou com aqueles encontros desastrosos que milagrosamente terminavam em beijos apaixonados na chuva? (confesso que é o meu sonho até hoje) Ou com aquele crush impossível que de repente se transformava no amor da sua vida? Esses filmes, com suas fórmulas previsíveis e clichês encantadores, marcaram uma geração e, de certo modo, nos ajudaram a moldar nossas expectativas (nem sempre realistas) sobre o amor.
A Magia e o Legado das Comédias Românticas
Nos anos 2000, as comédias românticas estavam no auge. Filmes como O Diário de Bridget Jones (2001), Como Perder um Homem em 10 Dias (2003) e 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999) (ok, finalzinho dos anos 90, mas vamos incluir) foram responsáveis por nos fazer acreditar em finais felizes e, ao mesmo tempo, nos deixar com aquela sensação agridoce de que o amor verdadeiro poderia estar a apenas uma confusão de distância.
Esses filmes nos ensinaram muito: sobre a importância de ser você mesmo (mesmo que isso signifique cantar desafinado em público), sobre não desistir do amor, e até sobre o poder de um bom makeover. Eles criaram ícones da cultura pop, frases memoráveis e até moldaram nosso guarda-roupa (obrigado, Carrie Bradshaw!).
Mas Nem Tudo É Perfeito...
No entanto, por mais que amemos esses filmes, é importante reconhecer que nem tudo era tão "cor de rosa" assim. Muitas das comédias românticas dos anos 2000, vistas pelos olhos de hoje, trazem à tona questões problemáticas. A representação de gênero, por exemplo, muitas vezes caía em estereótipos machistas.
Pegue A Verdade Nua e Crua (2009) como exemplo. A premissa básica do filme é que os homens são simples e movidos apenas por impulsos sexuais, enquanto as mulheres são complicadas e precisam de dicas de sedução para conseguir um namorado. Ou então, pense em Noiva em Fuga (1999), onde a protagonista, interpretada por Julia Roberts, passa o filme inteiro fugindo de seus noivos, incapaz de tomar uma decisão por si mesma até que finalmente encontra “o cara certo” para consertá-la. É aquele clássico caso de “ela só precisa do homem certo para ser feliz”, algo que hoje soa beeem ultrapassado.
Além disso, muitos desses filmes perpetuavam a ideia de que o "amor verdadeiro" era a solução para todos os problemas da vida. A ideia de que uma pessoa incompleta precisa de outra para se sentir inteira é algo que, felizmente, começamos a questionar mais nos dias de hoje.
Essas narrativas, muitas vezes, reforçavam estereótipos de gênero e ofereciam uma visão distorcida do que significa conquistar alguém.
Andy e Nate: Um Relacionamento Problemático?
Andy Sachs (Anne Hathaway) começa o filme como uma jornalista idealista que, meio por acaso, cai no mundo glamouroso (e implacável) da moda como assistente da temida Miranda Priestly (Meryl Streep). Já Nate (Adrian Grenier), seu namorado, é o cara bonzinho e compreensivo, mas que não entende por que Andy está se transformando em alguém que ele mal reconhece.
Enquanto Andy começa a subir na carreira e a abraçar o universo fashion, Nate se sente cada vez mais deixado de lado. Ele acredita que a Andy que ele conhecia está desaparecendo, substituída por uma versão "superficial" e obcecada pelo trabalho. E é aí que o problema começa.
Quando falamos de Andy e Nate, algumas falas se destacam por refletir uma mentalidade um tanto problemática. Aqui estão algumas citações e o que elas realmente significam:
Nate: "Você costumava dizer que isso era só um trabalho. Você costumava zoar as garotas da Runway. Agora você se tornou uma delas."
Por que é problemático?
Nate está basicamente dizendo que Andy "se perdeu" ao começar a levar seu trabalho a sério. Há uma clara desvalorização do crescimento profissional dela e uma sugestão de que ela está errada por abraçar um novo ambiente e novas oportunidades. É como se Nate estivesse mais preocupado com o fato de Andy estar mudando do que com o fato de ela estar se desenvolvendo como profissional. Isso reforça a ideia de que as mulheres devem se manter dentro de um certo molde para agradar aos outros, especialmente aos seus parceiros.
A dinâmica entre Andy e Nate levanta algumas red flags, especialmente quando vista com os olhos de hoje. Nate representa aquela ideia de que, para uma mulher ser feliz e ter um relacionamento saudável, ela precisa equilibrar perfeitamente sua vida pessoal e profissional. Mas, nesse caso, o equilíbrio parece significar que Andy deveria colocar seu relacionamento acima de sua carreira.
Nate não entende ou apoia as ambições de Andy. Ele vê o sucesso dela como uma ameaça ao relacionamento, em vez de algo para ser celebrado. Isso reflete uma visão machista, onde a mulher é esperada para se sacrificar, ou pelo menos limitar suas ambições, para manter o homem confortável.
No fundo, Nate queria que Andy continuasse sendo a garota simples e "acessível" que ele conheceu, sem perceber que ela estava crescendo e explorando novas facetas de si mesma. E isso levanta a pergunta: é justo que Andy devesse sacrificar suas aspirações para manter um relacionamento com alguém que não consegue aceitar quem ela está se tornando?
"Legalmente Loira": Desafiando Estereótipos e Celebrando o Empoderamento Feminino
Quando "Legalmente Loira" estreou nos cinemas em 2001, muitos esperavam mais uma comédia romântica superficial centrada em uma protagonista loira e fútil. No entanto, o filme, estrelado pela carismática Reese Witherspoon como Elle Woods, rapidamente subverteu as expectativas, oferecendo uma narrativa vibrante que desafiava os estereótipos de gênero e celebrava a inteligência e a força feminina.
Desconstruindo o Estereótipo da "Loira Burra"
Elle Woods, uma estudante de moda da Universidade de Los Angeles, é frequentemente julgada por sua aparência e interesses. No entanto, quando decide seguir seu ex-namorado até Harvard para reconquistá-lo, ela prova ser muito mais do que uma "loira burra". Elle desafia o preconceito ao demonstrar sua competência e dedicação, conquistando respeito em um ambiente dominado por homens e preconceitos.
Empoderamento Feminino em Harvard
A jornada de Elle em Harvard é uma inspiração. Ela não só supera as expectativas acadêmicas, mas também mantém sua identidade e estilo pessoal, recusando-se a se conformar com as normas masculinas de seriedade e sobriedade. Elle mostra que feminilidade e inteligência não são mutuamente exclusivas, e que uma mulher pode ser bem-sucedida em seus próprios termos.
Combatendo o Machismo com Inteligência e Graça
"Legalmente Loira" também aborda o machismo de forma inteligente e sutil. Elle enfrenta o assédio sexual de um professor e o desdém de colegas masculinos, mas ela lida com esses desafios com graça e astúcia, nunca perdendo sua dignidade ou autoconfiança. O filme celebra a sororidade, como visto na amizade de Elle com Vivian, inicialmente sua rival, mas que se torna uma aliada valiosa.
As Comédias Românticas de Hoje: Uma Nova Abordagem
Felizmente, as comédias românticas modernas têm feito um esforço para se afastar desses velhos estereótipos. Filmes como Para Todos os Garotos que Já Amei (2018) e Todo Mundo Menos Você (2024) trazem protagonistas femininas mais independentes e relacionamentos que são mais igualitários e "realistas" (de certo modo)
Hoje, as comédias românticas buscam mostrar que o amor pode ser algo leve e divertido, mas também complexo e imperfeito. Elas nos ensinam que é possível ter um relacionamento saudável e feliz sem precisar se encaixar em moldes antiquados.
No entanto, ao olharmos para trás, percebemos que nem tudo era tão perfeito. Muitos desses filmes retratavam relações e comportamentos que hoje reconhecemos como problemáticos. Por exemplo, "A Verdade Nua e Crua" apresentava uma dinâmica de gênero que hoje seria questionada, e "Ela é Demais" promovia a ideia de que o valor de uma pessoa está em sua aparência.
"Anyone But You": A Nova Geração
E é aqui que "Anyone But You" entra em cena. Este filme traz frescor ao gênero, abordando as complexidades do amor moderno com um olhar mais consciente e inclusivo. Bea e Ben, interpretados brilhantemente por Sydney Sweeney e Glen Powell, nos mostram que o amor pode surgir onde menos esperamos e que as segundas chances merecem ser celebradas.
As comédias românticas dos anos 2000 têm um lugar especial em nossos corações. Elas foram uma parte fundamental da nossa formação cultural e, de certa forma, ajudaram a moldar nossas expectativas sobre o amor e os relacionamentos. Mas também é importante olhar para trás com um olhar crítico, reconhecendo os erros e aprendendo com eles.
Hoje, continuamos a amar uma boa comédia romântica, mas com a consciência de que o amor não precisa ser perfeito para ser verdadeiro. E se tem algo que essas comédias nos ensinaram é que, no final, todos merecemos um final feliz mesmo que ele não seja exatamente como nos filmes.
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